Bom ou Mau?

POR ROBERT R.R. BOMMAU

dexter--bem-ou-mal-0daaa“Todos os opostos – bem ou mal, ter ou não ter, ganhar ou perder, eu e os outros – dividem a mente. Ao aceita-los, nos afastamos de nossa mente original e sucumbimos desse dualismo.” ~Tsai Chih Chung

Pergunta estranha? Ou não? O motivo da pergunta é: “Realmente é essencial classificar um personagem que vemos num filme, série, anime, livro ou qualquer outro tipo de mídia como bom ou mau, herói ou vilão, mocinho ou bandido?”. Estive pensando nisso após assistir “Psycho-Pass”, um anime da temporada de outubro do ano passado e que encerrou (?) no final desse mês. Não vou entrar em detalhes, pois pode ser que surja uma matéria sobre ele por aqui (ou não, nunca dá pra saber ^^), mas depois de assistir ao final, fui acometido por esta questão. Os personagens da história, mesmo fazendo parte da turma do bem ou turma do mal, realizam ações que nem sempre condizem com essa análise de bem ou mal. Um “vilão” que não é considerado criminoso pelo Sistema que toma conta do mundo. Um “herói” que é considerado criminoso porque desenvolveu uma vontade de matar o assassino de um de seus companheiros de trabalho. Enfim, usei este exemplo de Psycho-Pass, pois ele é recente na minha cabeça, mas quantos outros exemplos parecidos ou mais diversificados com estes já não vimos por aí? Esses valores podem ser invertidos, como já ocorreu em “Code Geass” (um protagonista que quer se vingar do império ao qualquer custo e o seu amigo de infância que trabalha para o império e tem que impedir os ataques contra o império) e “Death Note” (mais invertido impossível: um protagonista que encontra um caderno que pode matar pessoas ao escrever o nome delas em suas folhas e decide “limpar” o mundo, matando vários criminosos e um outro que é um detetive super gênio que tem como tarefa impedir que as mortes continuem).

Shougo, Kougami e Akane de "Psycho-Pass"
Shougo, Kougami e Akane de “Psycho-Pass”

Vejo por aí muitas pessoas falarem que os vilões são mais interessantes que os mocinhos ou então, gente venerando vilão porque é legal ou por puro modismo. Como se um personagem bondoso fosse pior ou menos interessante do que o do mal. O oposto também acontece e vemos muito isso em novelas. Pessoas torcendo para a(o) mocinha(o) e clamando pelo linchamento da(o) vilã(o). Claro que nesse caso, como já foi dito aos montes pela mídia, é devido ao fenômeno que acontece de que a maioria dos seres humanos se espalha nos personagens e se sentem vingados quando o vilão é castigado. E no outro caso, ser o vilão é mais legal porque ele é descolado, comete atrocidades, mata pessoas, espalha a discórdia, queima cachorros e faz coisas que, aparentemente, a pessoa não seria capaz de fazer. Aparentemente, pois vai lá saber o nível de insanidade de uma pessoa.

De retalhador a andarilho
De retalhador a andarilho

Mas tem gente que prefere analisar a complexidade dos personagens, independente de ser bom ou mau. E na minha opinião, é isso que faz um personagem ser interessante. A complexidade leva ao interesse. Muitos vão dizer que não, mas eu creio que sim.

Imaginem o personagem que seria o antagonista (termo mais apropriado) que foi ignorado pela sociedade a sua vida toda. Na infância, não tinha amigos simplesmente porque sua família era humilde e pobre e os vizinhos, ricos, diziam aos seus filhos para não se misturarem com ele. Foi alvo de preconceito e era zombado pela criançada. Na adolescência, teve os pais mortos misteriosamente e a família que o adotou era extremamente rude com ele. Adentrando a fase adulta, em todos os empregos que arrumava, trabalhava como um escravo. Em um certo dia, decide fazer justiça com as próprias mãos contra a sociedade mesquinha, preconceituosa e abusiva, contra aqueles que usam do poder para oprimir pessoas como ele. E assim ele arquiteta a sua justiça semeando “pequenos focos de incêndio” até chegar ao gran finale de “incendiar” uma cidade e jogá-la no caos, dando um tapa na cara da sociedade mostrando aos alvos de sua justiça de que eles não são assim tão poderosos como pensam. Ok, descriçãozinha clichê, fajuta e mequetrefe mas que serve ao propósito. Podemos julgar esta pessoa/personagem como vilã ou má, assim, de maneira pura? Ao meu ver, nem sim, nem não. Depende do ponto do vista. Do ponto de vista que se enxergar a história, ele pode ser um vilão ou não.

Bem Ou Mal

Vamos adicionar um outro personagem na história. Temos agora, um homem normal que não tem uma vida de luxos mas também não se pode dizer que o mesmo é pobre. É um policial com uma noiva, não concorda muito em como o “Sistema” trata as coisas mas cumpre o seu dever como defensor da ordem. Em um incidente trágico causado pelo primeiro personagem descrito acima, a noiva dele falece. Ele, então, busca se vingar do primeiro a qualquer custo, quebrando várias regras como policial. Prefere correr atrás do autor do caos em que a cidade foi mergulhada do que salvar um inocente implorando por ajuda. Depois de um tempo, se vendo limitado pela Polícia, decide abandoná-la para fazer a sua justiça com as próprias mãos. Após o desenrolar de uma cadeia de eventos, ele consegue encontrar o “vilão” e o mata. Ele livrando a cidade do caos, o torna o “herói” puro e nobre? Ou o salvador?

siegmare

Aí chegamos à outra questão? Alguém bom não pode cometer certos deslizes, não pode se utilizar de métodos sombrios ou duvidosos para alcançar a justiça? Um dito vilão deve ser considerado mau mesmo querendo fazer a coisa certa com meios não necessariamente certos? E a outra questão: “É melhor ser o vilão legal e descolado do que ser o herói chato e bundão? Quer dizer, o vilão tem que ter sempre atitudes “legais” e o herói manter sempre a linha certinha?”.

Volto a pergunta que fiz no começo do post: “Temos mesmo que nos apegar a estas classificações de bom e mau?”. Eu prefiro não fazer isso, pelo menos não de cara, mesmo certas histórias deixarem isso bem claro. Apesar de eu gostar de histórias que deixam isso no ar.

E para os RPGistas. Será que não podemos sair desses arquétipos e construir personagens muito mais interessantes livres um pouco da definição de bem ou mal? Não podemos fazer heróis mais interessantes ou vilões que não sejam tão vilões assim?

Até a próxima.

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